O neuropsicólogo e psicólogo clínico Fábio Luiz Vicente trata da relação entre o abuso de drogas e outras doenças psíquicas
Qual a importância de datas como o Dia Internacional contra o abuso de drogas?
A data é muito importante tendo em vista que drogas são um sério problema de saúde pública, não somente no Brasil, mas em todo mundo. Através da conscientização, podemos planejar ações de políticas públicas, bem como, melhores estratégias de tratamento dos usuários. Falar de forma clara sobre o problema, pode ajudar a reduzir o preconceito que existe contra o dependente e ajudar que ele tenha acesso às informações para a busca de ajuda.
Existe algum tipo de relação entre o abuso de drogas e outras doenças psíquicas, como a depressão ou a ansiedade?
As drogas, sejam elas lícitas (álcool) ou ilícitas (crack, cocaína, maconha, etc) estão associadas a alterações cerebrais e biológicas importantes. Uma série de doenças mentais podem ser desencadeadas pelo uso de substâncias, dentre elas podemos citar: a depressão, ansiedade e a psicose. Também não é incomum pessoas que já possuem um transtorno mental, como um quadro de depressão, começarem a fazer uso de algum tipo de droga e terem uma piora de seus sintomas.
Como é possível identificar quando o uso deixa de ser “recreativo” e passa a ser um problema de saúde?
Todas as drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, podem gerar abuso e dependência química. No uso recreativo de uma droga, por exemplo, o álcool, a pessoa consegue administrar a frequência e a quantidade do consumo e, geralmente, não terá maiores complicações decorrentes desse hábito. No entanto, em algumas pessoas, a droga passa a fazer parte da vida de uma forma constante (como um padrão) e impactar de forma negativa em sua vida familiar, profissional e acadêmica. Neste momento, podemos estar diante de uma dependência química. A dependência é sempre uma perda de controle.
Qual impacto as drogas podem causar entre jovens e adolescentes?
Hoje sabemos pelas descobertas recentes da neurociência que algumas regiões do cérebro do adolescente, principalmente as responsáveis pela capacidade de autocontrole (freio), somente estarão completamente maduras no início da vida adulta. O adolescente encontra-se em condição de vulnerabilidade e, sua exposição ao álcool e outras drogas, não somente os expõe a uma série de comportamentos de risco (inicio precoce da vida sexual e infecções por DSTs, agressividade, riscos de acidente, diminuição de interação social, problemas de aprendizagem, etc), bem como, aumentam os riscos de desenvolverem propriamente a dependência química na vida adulta.
Qual a melhor forma de a família abordar o problema?
A dependência química normalmente é um problema complexo pelo fato de que, muitas vezes, o dependente não aceita, ou então, não está motivado o suficiente para iniciar o tratamento. Juntamente a isso, ela é cercada por preconceito e incompreensão, principalmente no ambiente familiar. Os familiares devem criar um ambiente de diálogo, proximidade e confiança com quem está vivendo esse problema. Estabelecer um plano de ajuda que envolva profissionais especializados (médicos e psicólogos) é sempre o primeiro passo.