Uma vida de trabalho duro resultou em admiração e respeito entre filhos, netos e bisnetos que comemoraram seu centenário em setembro
Completado no mês de setembro, o centenário de vida de Mercedes Quadrado Martins foi comemorado pela família com todo amor, carinho e respeito que sua história merece, mas para ela foi mais um aniversário, já que a mente limpa e a memória intocada dão à sorridente senhora um brilho de juventude, que nem mesmo as dores no corpo pela avançada idade fazem com que se sinta velha. “Nem parece que eu fiz 100 anos”, comemora.
Para a Revista O Comércio ela contou de sua infância e juventude de muito trabalho pesado quando morava com o pai Ângelo Quadrado, a mãe Rafaela Franco Guerreiro Quadrado e os sete irmãos em uma fazenda na região do Campinho, em Macatuba. Todos já falecidos.
Aos seis ou sete anos ela já não frequentava a escola com frequência, pois tinha que ajudar a mãe nos serviços de casa e ao pai na roça de café. A infância toda de muito trabalho pesado passou e, com cerca de 17 anos, Mercedes já dominava a lida reservada aos homens, como arriar o burro na carroça para puxar bagaço de cana do engenho de pinga que o pai tocava na propriedade da família.
Cabia a ela e uma irmã, por exemplo, levantar as 3h30 da madrugada para abrir a comporta da represa que fazia virar o engenho, o que chegava a congelar mãos e pés durante o inverno. “Para trabalhar, não tinha dia e não tinha hora, seja carpir, rastelar café, limpar cova de café, qualquer coisa até 16h da tarde no sábado, e depois carregar água na cabeça para lavar a casa de 10 cômodos”, lembrou.
A adolescência passou sob o regime rígido do pai, que também teve que trabalhar muito para cuidar da avó de Mercedes e de seus tios, após seu avô falecer muito jovem, quando Ângelo tinha apenas 12 anos. O trabalho foi sempre o esteio da família.
Mas, ficar adulta e criar a própria família ao lado do esposo Francisco Martins e dos filhos Clarides, Celi e Odair não significou descanso para a mulher incansável de 1,5 metro de altura que também ajudou a cuidar de netos, e ainda teve uma participação histórica na criação da Apae de Lençóis Paulista ao lado da filha Celi, uma das fundadoras da entidade.
Apesar do porte aparentemente frágil, ela trabalhava de forma voluntária na cozinha da entidade, preparando e servindo a refeição dos alunos.
As memórias vívidas de Dona Mercedes fazem com que sua figura frágil de hoje se confunda com a da menina Mercedes, que apesar do trabalho duro de uma vida inteira se definiu pelas coisas boas que viveu, por isso cada lembrança da infância ou da adolescência, por mais que tenham sido duras ao lado dos pais e dos irmãos, se transforma em risos e carinho pelo passado.
E foi com esta sabedoria que Mercedes construiu sua família que conta com oito netos e sete bisnetos, que apesar de nunca terem chegado próximos do rigor com que ela viveu respeitam cada passo de sua história com a clareza de que foram esses duros passos que construíram a solidez moral e intelectual de cada um.
E no aniversário de 100 anos da mãe, avó e bisavó comemoraram sua história como se fosse uma semente bem plantada, em um solo muito fértil que deu frutos melhores a cada estação.