Início de ano: expectativas e frustrações

SITE

Por Régis Hueb

 

Em todo início de ano, é comum as pessoas refletirem sobre si mesmas, sobre os acertos e erros ocorridos no ano que passou. Essa análise, muitas vezes, não leva a um resultado tão positivo. Então, o que fazer quando as cobranças feitas a si mesmo afetam nosso equilíbrio emocional ou nosso psicológico? Neste artigo, o psicanalista Régis Hueb aborda o assunto.

 

“A virada do ano é um momento bastante especial, também em relação ao mundo mental. É comum que as pessoas façam uma pausa para reflexão, sobre o ano que passou, e sobre as coisas que as afetaram neste período. E, como é próprio da vida, experiências negativas aconteceram, tornando natural o surgimento de sentimentos de frustração e melancolia.

Porém, em algumas situações, esses sentimentos tomam tal intensidade, que os caracterizamos como patológicos ou fora da normalidade.

Como, por exemplo, quando esses sentimentos ruins tomam conta de todo o nosso universo emocional, e entramos em um ciclo de revivência de experiências negativas e nossos pensamentos, emoções, memória, atenção, passam todos a trabalhar em função da permanência deste estado.

Vale lembrar que, neste período do ano, todos sentimos, pelo menos em algum grau, uma espécie de impulso para a mudança. Sendo comum a determinação de metas, projetos e desejos para o ano seguinte.

Mas, quando não existe nenhuma parcela de otimismo, nenhum olhar para o futuro, isto certamente pode ser um sinal de alerta, de que alguém pode estar precisando de ajuda. Para lidar com esses sentimentos, penso na importância de olhar para si mesmo com compaixão, ciente de que todos temos os nossos limites, e fazemos, sempre, o que está ao nosso alcance.

Fala-se que devemos ter cuidado com as resoluções de final de ano, para mais tarde não nos frustrarmos com os objetivos não alcançados. No entanto, também acho importante fazer um alerta no sentido oposto.

Sim, é importante traçarmos planos realistas, mas, a capacidade de sonhar, de imaginar um mundo diferente, talvez seja uma de nossas mais elevadas capacidades e aquilo que nos define como seres humanos.

Estes sentimentos, indubitavelmente, refletem um estado de boa saúde mental, sendo nosso dever cultivá-los com dedicação e seriedade. No ambiente clínico, geralmente, os pacientes mais graves são aqueles que perderam a esperança de melhora, e não conseguem mais imaginar uma outra forma de estar no mundo”.