Psicanálise: É preciso desmistificar doenças mentais: “São como qualquer outra”, diz Luciene Moretto

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Método criado por Freud estuda causas que levam pessoas a adoecerem

 

A psicanálise ou a teoria da alma (‘psique’) criada por Sigmund Freud (1856-1939), neurologista austríaco é um método terapêutico que consiste na interpretação dos conteúdos inconscientes do sujeito ou paciente, através das associações livres de pensamentos, lembranças e produções imaginárias.  Apesar de ter sido muito difundida, a maioria das pessoas, embora já tenham ouvido falar em psicanálise pouco sabem sobre o método, que trata doenças e sintomas da saúde mental.
Com o advento das redes sociais, porém psicanalistas de todo o mundo têm ganhado um espaço maior para transmitir a psicanálise e fazê-la circular.

A psicanalista Luciene Moretto opina que a pandemia, por exemplo, apenas expôs a fragilidade humana e potencializou as doenças e sintomas da saúde mental, como transtornos e síndromes. “Não só a pandemia trouxe à tona o sentimento de angustia, solidão, ansiedade e depressão, a própria sociedade contribui para que o indivíduo adoeça. O uso de redes como Instagram e Facebook podem gerar gatilhos como insegurança e baixa autoestima, e também comparações e competições”, explica.

Procurar pelo acompanhamento de um especialista em saúde mental é fundamental, mas infelizmente, em algumas famílias e nos ciclos sociais é comum as pessoas serem estimuladas a não procurar esta ajuda. “Isso potencializa anda mais a doença, a pessoa se sente incompreendida, e pior, ela acha que o que está sentindo é besteira que não é importante ou não merece atenção.
O fato é que a pessoa vai ficando cada vez mais adoecida. Não ajuda você falar para alguém que está triste ou em crise que isso é apenas coisa da cabeça dela, que ela tem saúde(física) que tem bens materiais ou outras coisas para pensar. Doenças mentais são como outra qualquer, como de qualquer parte do corpo, e devem receber a mesma atenção”, afirma.

Luciene alerta para os riscos que representam, por exemplo, a pessoa não ter liberdade para expressar seus sentimentos e sensações. “Isso precisa ser desmistificado para que todos saibam que não estão sozinhos”.  O silenciamento leva muitos a esconderem, por exemplo, ideações suicidas e outras formas de se autoagredirem.

Além de procurar ajuda, é importante que as pessoas saibam a quem devem procurar, por isso a psicanalista ressalta a diferença entre os profissionais que cuidam da saúde mental. “O psiquiatra é médico, faz o diagnóstico após algumas consultas e acompanha o paciente caso a medicação seja recomendada, também pode recomendar terapia ao paciente como forma de complementar o tratamento.  O psicólogo faz a faculdade de psicologia, onde estuda diversas áreas relacionadas ao comportamento humano, o que permite que ele atue em vários setores sociais e também em clínicas atendendo a saúde mental”, conta. “O psicanalista precisa passar por uma formação específica realizada em um instituto ou escola de psicanálise baseada nas teorias freudianas e pós-freudianas como Lacan, Melanie Klein Firenczi, Bion e outros, que continuam a difundir e a estudar os enigmas do aparelho psíquico e seu funcionamento. Porém, a formação de um analista é sustentada em um tripé –  teoria, análise pessoal e supervisão. Portanto, a formação na verdade é contínua. Sim, os psicanalistas devem estar em constante manutenção e desenvolvimento de suas funções enquanto analistas”, garante.
E como funciona uma sessão? A psicanalista explica. “Primeiro, marcamos uma entrevista, um primeiro contato, uma primeira conversa. Neste momento, escuto o que a pessoa traz, qual a angústia, qual a demanda. Explico como o tratamento pode funcionar, combinamos sigilo, frequência e valores. A partir das próximas sessões, o analisando vai podendo entrar em contato com seus livres pensamentos e o percurso se inicia. Sempre digo que aquele que procura por uma análise dá um passo diferente em relação a sua própria história, envolve coragem, dor e transformação”, resume.

 

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