Homossexualidade não é desvio de caráter

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Darllene Martins é universitária, cantora, dançarina e fala sobre urgência de políticas públicas voltadas à inclusão LGBTQIA+

 

O principal objetivo do Dia do Orgulho LGBTQIA+ ou simplesmente Dia do Orgulho Gay, comemorado, anualmente, em 28 de junho, é despertar a consciência das pessoas sobre a importância do combate à homofobia, como forma de garantir uma sociedade sem preconceitos e onde ninguém sinta vergonha da sua orientação sexual. Exatamente como a universitária, cantora e dançarina Darllene Martins, de 28 anos, sempre defendeu suas escolhas, mesmo vivendo em um ambiente familiar e social que exigem, constantemente, afirmação em busca da felicidade. “Quero que as pessoas saibam que somos pessoas normais”, afirmou.

Ela relata que desde a infância sabia de sua condição homoafetiva e, por isso, durante toda a vida defendeu suas escolhas, inclusive, dentro de seu próprio núcleo familiar, devido ao pai ser pastor evangélico, e encontrar dificuldade em aceitá-la.

Em determinado momento, Darllene conta que chegou a se questionar sobre sua identidade, época em que esteve mais próxima do ambiente religioso. “Criei um personagem para agradar aos outros, porque não me sentia amada sendo como eu era”, lamentou.

Com a maturidade e a aceitação, resolveu seus questionamentos internos e espirituais. “Eu tive que me confrontar e me assumir gay para ser feliz. Entendi que Deus me fez como sou, que ele sabia quem eu seria e me ama sendo eu quem sou”, defendeu.

Foi a partir do momento que se posicionou definitivamente que Darllene passou a receber o respeito das pessoas próximas. Mas, não sem a resistência natural de quem ainda hoje não entende ou aceita a homossexualidade como algo natural. “As pessoas confundem homossexualidade com desvio de caráter e relacionam ao uso de drogas, prostituição e crimes, mas não é isso. Como qualquer pessoa, eu estudo, trabalho, pago impostos e vivo minha vida, normalmente. As escolhas que faço não afetam a vida de ninguém”, afirmou.

Forte, bem resolvida e dona de uma personalidade marcante, Darllene lamenta o fato de tantas outras pessoas não terem coragem de se assumirem, principalmente, devido à resistência de uma sociedade conservadora, como a lençoense, o que, em sua opinião, dificulta que tantos homossexuais continuem infelizes e sofram com preconceito. “Embora seja triste, historicamente, não tivemos em Lençóis Paulista políticas públicas voltadas à inclusão e a diversidade. Precisamos que as pessoas discutam mais ações inclusivas para o público LGBTQIA+. A cidade não acolhe e por isso tantas como eu escolhem morar em outras cidades”, lamenta.

Embora em todo mundo manifestações como passeatas do orgulho gay sejam comuns, Darllene ressalta ainda o medo deste público em ser vítima de violência física. “O Brasil é o país que mais mata gays, ao mesmo tempo em que lidera o ranking de acesso à pornografia homossexual, então o medo vem desta zona de perigo”, destacou.

Mesmo assim, sua resistência, como ela própria diz, faz com que Darllene se sinta privilegiada. “Tenho orgulho de ser travesti em Lençóis, curso jornalismo, faço teatro e dança, adoro academia e quero mostrar que, assim como eu, todas podem chegar onde quiserem, desde que não se coloquem como vítimas e defendam suas desições. Minha condição sexual me impulsiona a chegar onde quero, Mas, também quero que outras ocupem os mesmos espaços, por isso podem contar comigo para ter essa força, pois, ao mesmo tempo, vou continuar cobrando que a sociedade respeite nossas escolhas”, conclui.