Muitas vezes, ouvimos profissionais das mais diversas áreas dizerem que amam sua profissão. E isso é um ótimo sinal, pois representa que exercem sua atividade com carinho e dedicação. Quando ouvimos um médico fazer tal afirmação, isso nos enche de respeito e admiração, pois estes profissionais lidam com vidas, assim, difícil imaginar que vai exercer bem a profissão quem não amar seu semelhante. Mas, quando vemos uma pediatra declarar sentimentos tão fortes, o coração se aconchega por perceber que tantos recém-nascidos serão tão bem acolhidos desde sua chegada e por toda a infância.
Para homenagear a esses profissionais que amam o que fazem, acolhem e cuidam dos bens mais preciosos que podemos ter, nossas crianças, que a Revista O Comércio entrevistou a pediatra e especialista em neonatologia Lívia Hueb, já que no próximo dia 27 de julho é comemorado o Dia do Pediatra.
Lívia é formada há 14 anos e sua subespecialidade é neonatologia (Unesp/Botucatu). Para ela, poder cuidar da saúde das crianças é uma realização. “Ter o privilégio de acompanhar uma criança desde o nascimento até a adolescência, passar por todas as fases de desenvolvimento, tanto físico quanto emocional é de uma responsabilidade imensa! E de uma alegria imensa também!”, afirma.
Mesmo quando é preciso conciliar a responsabilidade e compromisso do trabalho e de casa. “Realmente a profissão médica para as mulheres é delicada! Como todas as mulheres que trabalham fora a jornada costuma ser dupla, tripla! Há cinco anos resolvi fechar meu consultório e me dedicar à UTI neonatal e à minha família. Hoje, com meus filhos crescidos, vi que era hora de voltar. Reabri meu consultório há um mês e estou muito feliz. Estou me sentindo realizada, estava sentindo falta desse acompanhamento mais próximo com o paciente”, conta.
O trabalho proporciona experiências únicas, garante a médica, especialmente, nesse momento tão delicado para a vida, causado pela pandemia. “Já vivi muitos momentos marcantes em todo esse tempo de pediatria, mas há cerca de 15 dias uma história me marcou muito. Fomos chamados para ir até o Hospital Estadual de Bauru , eu e a equipe da Maternidade Santa Isabel, para recepcionar um bebê prematuro, filho de uma mãe que estava internada na UTI em estado grave de Covid. Chegando lá, a mãe deu entrada no centro cirúrgico com falta de ar, mas ainda acordada e consciente. O olhar daquela mãe, de medo, de insegurança, de incerteza se ela voltaria depois da sua intubação, da incerteza se seu bebê sobreviveria e se ela chegaria a vê-lo, me marcou muito. O bebê nasceu grave, precisou ser intubado, mas foi estabilizado. Conseguimos levá-lo na incubadora até a sua mãe, que o abençoo e me pediu que não o deixasse morrer. Naquele momento me senti com uma responsabilidade enorme, mas também com uma vontade maior ainda de não medir esforços para que aquela criança sobrevivesse. Essa história ainda não teve um final, mas o bebê e sua mãe encontram-se melhorando a cada dia e se Deus quiser logo estarão juntas”.
São personagens que participam de histórias emocionantes como essa que merecem muitas homenagens, uma vez que suas vidas também são marcadas por elas, garante Lívia. “Acredito que não tem como não se envolver emocionalmente, mesmo mantendo o profissionalismo. Eu sou suspeita, mas amo essa profissão mais que tudo”, conclui.