Por Tânia Morbi
Psicanalista descreve transtorno e dor causada as vítimas
Um assunto que é considerado tabu, mas cujo debate pode ajudar pessoas a entenderem o sofrimento decorrente das situações vividas, as chamadas mães narcisistas está relacionado à um transtorno de personalidade, com agravante de que o narcisista não reconhece sua condição, o que impede seu tratamento. As explicações e a avaliação do quanto é importante abordar o tema é da psicanalista Luciene Moretto.
O abuso psicológico proporcionado pela mãe narcisista pode ser tão cruel que tem levado muitas vítimas a formarem grupos de apoio nas redes sociais para alertar quem está vivendo a situação sem ter consciência do problema.
Luciene explica que, por não reconhecer sua condição e se sentir superior as demais pessoas, o narcisista, em geral, vai culpar aos outros por situações de conflito e vai tentar manipular aos que estão próximos, o que leva à uma relação muito difícil.
Mas, conviver com a mãe narcisista é muito mais doloroso, porque a sociedade tende a ter uma imagem intocável das mães. “Tem esse olhar de que uma mãe não vai querer o mal do filho e geralmente as filhas são as maiores vítimas”, comenta.
A psicanalista relata que uma das características da mãe narcisista é se sentir superior e por isso tratam os filhos com inferioridade. “Uma frase que elas usam muito é: você me deve a vida e só existe porque eu quis, outras vezes dizem que deveriam ter abortado. Ela fala coisas que agridem muito o ‘psicológico’”, lamenta.
A manipulação é outra característica, o que leva a filha a acreditar que nunca vai ser tão boa quanto sua mãe, o que afeta sua autoestima. “Você nunca tem desta mãe o reconhecimento por algo positivo ou conquistado, é sempre muita crítica. E este é um círculo vicioso de sofrimento, porque a filha quer o amor desta mãe, mas sente que nunca será boa para merecê-lo”.
Os conflitos tendem a aumentar na adolescência. “Existe muito ciúmes. A mãe não suporta o fato de a filha fazer o que ela não pôde. Ela não deixa a filha viver a própria vida e não a encoraja” comenta.
O comportamento abusivo, no entanto, ocorre mais dentro de casa, já que socialmente a mãe valoriza e enaltece a filha, ao contrário do que faz no dia a dia. “Por isso é difícil identificar, porque ela faz o jogo de manter uma aparência social diferente, e se a filha diz que a mãe a maltrata, ninguém acredita. É abusivo e perverso para a vítima”, diz.
Outra perversidade, segundo Luciene, é que quando a mãe percebe que está perdendo seu objeto, no caso, a filha, muda o diálogo para manter o poder, se transformando em alguém dócil e carinhoso. A mãe também mente para manter as aparências que ela mesmo cria.
A mãe narcisista não admite ser questionada, quando a filha tenta uma conversa. Muitas vezes, a pune com o silêncio e rejeita a vítima, que sofre por não poder resolver a situação. “Isso é uma forma de abuso”, afirma.
Infelizmente, de acordo com Luciene, por ser algo que afeta a vítima ao longo dos anos, muitas vezes, a única forma de cura para a vítima é o afastamento e a procura por ajuda “Este é um dos transtornos mais difíceis pelo que causa à vítima e ocorre com muita frequência, infelizmente”, avalia.
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